domingo, 23 de outubro de 2011

João Martins da Jaçanã e o Caso do Ipu


Matéria Publicada no Jornal Ipu Grande, edição de fevereiro/março de 2008. Categoria: História do Ipu

Eram quase cinco horas da manhã do dia 9 de dezembro. O ano? 1914. Cerca de 5 policiais e alguns “capangas” armados esperavam, na Estação Ferroviária, desde às 3 da madrugada, a chegada à cidade do destemido cel. João Martins da Jaçanã com seus “jagunços”. Os policiais usavam como escudo os inúmeros fardos de algodão (da firma J. Lourenço & Cia) que aguardavam a chegada do trem na gare da Estação para o seu embarque até o porto de Camocim. Estavam exaustos por uma noite mal dormida. Resolvem ir embora, pensavam que a notícia de que o coronel invadiria a cidade com seu bando não passava de um Boato.

João Martins morava em sua fazenda, Jaçanã, distante 6 Km da sede do município. Irmão do líder político local, o Cel. Felix Martins, estava insatisfeito e furioso e “botando fumaça pelas ventas”, afinal, no dia anterior policiais que vieram da região do Cariri, “afilhados do Padre Cícero”, haviam dado uma surra em seu sobrinho, o capitão Osório Martins, dentro do estabelecimento comercial (Farias & Martins) em que era sócio, no mercado público.

Como membro da extensa família dos Martins e que dominara a política local desde a montagem da oligarquia aciolina (1896 até 1914), estivera acostumado a sentir o gosto do poder. Ninguém seria capaz de afrontá-lo e a seus familiares e agregados sob pena de levar uma surra corretiva ou passar alguns dias nada agradáveis na cadeia pública. O Ipu, pode-se dizer, “pertencia aos Martins”. O Juiz, o Promotor, o delegado e todos os principais postos de mando estavam em suas mãos e ai daquele que se metesse com um deles, o cemitério poderia ser sua morada eterna.

Mas, em 1914 os Martins perderam o poder e passaram a ser perseguido pelo Governo do Estado. Durante o governo de Benjamin Liberato Barroso, foi empreendida uma verdadeira escalada contra os grupos de jagunços sob a chefia dos coronéis, principalmente da região do Cariri, para onde foi enviada numerosa força militar com recomendações de eliminar todos os “bandidos”: “Não poupe bandidos. Execute-os sumariamente”, havia dito o governo do Estado.
Para o Ipu, agitado naquele momento, o mesmo remédio fora recomendado. Só assim se explica a intensa perseguição ao Cel. João Martins da Jaçanã e, de um modo geral, aos Martins de Ipu, que tiveram de fugir para não serem alvos de atrocidades. Porém, o Episódio que comecei descrevendo é um pouco anterior. Deixemos para a segunda parte a perseguição aos Martins.
Insatisfeito com a perda do poder e se sentido humilhado pela surra dada por policiais em seu sobrinho. O coronel não pensara duas vezes. Embora se encontrasse enfermo, invadiria a cidade, atacaria a cadeia, exterminaria os policias se possível e libertaria seu sobrinho da suposta prisão. Mostraria a todos quem tinha o poder de fato. Preferia morrer a se submeter à “justiça”.

Passageiros e transeuntes que aguardavam a chegada do trem das 6h na Estação avistaram ao longe uma multidão que avançava a passos largos pelo Boulevard Dr. João Pessoa, hoje Avenida Auton Aragão (ou “Rua dos Canudos”). Eram 50 homens, dos quais 30 montados e que tinham à frente o lendário e destemido Cel. João Martins, com cara de poucos amigos. Vinha bufando, literalmente, com sede de sangue e pronto a vingar-se da humilhação sofrida. O relógio marcava pouco mais de 5h. Os policiais já não se encontravam mais ali. Tomavam café no “quartel” (cadeia) no prédio da Casa de Câmara (atual prefeitura), no pavimento inferior. Riam, se divertiam e comentavam: “esse tal coronel não é tão valente quanto pinta a população; “deve ser um borra-botas”; Ele que venha que tenho bala sobrando!”.
Logo que chegaram à Estação, o Coronel e seu bando cortaram os fios do telégrafo deixando a localidade sem comunicação com outros municípios para impedir pedidos de reforços, sobretudo ao destacamento de Sobral. Avançaram pela atual rua Cel. Felix em direção à cadeia. Pretendiam cercá-la por todos os lados, mas os planos foram por água abaixo quando um tal Jandaia Passos - que passara a noite bebendo, talvez no Curral do Açougue (Cabaré), se divertindo com as “cutruvias”, gritara: “Se aprontem, soldados, para morrer!” Foi o bastante para alertar os policiais, que abriram fogo contra o bando que se preparava para o bote. As expressões faciais alegres dos policiais deram lugar ao assombro... Iriam conhecer a fúria e o poder de fogo do Coronel!

Das 5 às 9 da manhã do dia 9 de dezembro de 1914, ficou a cidade sob fogo cerrado dos “jagunços fardados” e dos “capangas” de João Martins da Jaçanã. O Mercado que abria suas portas fechou-as encerrando em seu interior aqueles que ali estavam.
Os jagunços do coronel avançavam usando as grossas árvores como escudos, outros se posicionando em seus galhos para buscar o alvo. Tomar a cadeia era apenas uma questão de tempo.
Logo caiu morto, vítima de uma bala certeira, um dos soldados. Era Antonio Pereira, irmão do agressor de Osório e um dos cinco policiais que vieram do Cariri. Percebendo o perigo, correram o comandante Assunção e seus soldados, para esconder-se na casa de D. Madeirinha Memória, viúva do Dr. Francisco Memória. Da casa que ficava em um dos lados da Cadeia os soldados mantiveram o fogo.
Porém, sabedor de que Osório não estava preso ali, na cadeia, e após gastar mais de mil cartuchos e deixar a Cadeia e Casa de Câmara com as marcas do episódio, João Martins e seu bando cessam fogo. Estava abortado o plano de tomar a cadeia. Em entendimento com o chefe de polícia do destacamento, João Martins exigiu que os “cachorros fardados”, “os afilhados do Padre Cícero” fossem expulsos da cidade.
A pacata cidade de Ipu vivia um de seus episódios mais sangrentos. O ataque à cadeira empreendido pelo coronel João Martins era apenas o início de um banho de sangue que viveria a pequena, mas próspera, urbe do “sertão”.

João Martins, o destemido e lendário coronel do “sertão”, havia lavado sua honra. Após atacar a cadeia com seus “jagunços” e humilhar o poder instituído, dormiria tranquilo, por enquanto. Mostrou à polícia e a cidade quem de fato detinha o poder. Só deixou o Ipu após um acordo e muito insistência do chefe de polícia e o juiz da Comarca. Todos temiam uma guerra, pois era certa a vinda de policiais do destacamento de Sobral para manter a ordem e honrar o poder instituído.

O Cel. parecia não está a par ou ligar para a conjuntura política. Naquele momento os Martins de Ipu haviam sido depostos do poder e os cargos, um a um, foram assumidos por seus tradicionais opositores: os Aragão. Isso assim se deu pela própria mudança da conjuntura política estadual e federal.
Os Martins e sua parentela estiveram imbricados com a política oligárquica. Apoiavam Nogueira Accioly, chefe da oligarquia estadual, e recebiam carta branca para governar a cidade de Ipu. Accioly, por sua vez, apoiava o candidato ao governo federal indicado pelo PRP (Partido Republicano Paulista) e recebia carta branca para os mandos e desmando no Estado.

Mas, em 1910 esse esquema montado por Campos Sales (Política dos Governadores) sofreria uma fissura com a eleição de Hermes da Fonseca para a presidência. Hermes adotou uma política conhecida como salvacionismo que consistiu em promover uma substituição dos oligarcas estaduais por outras, com o objetivo de “moralizar” a política federal e sob a alegação de que as oligarquias estaduais, com sua corrupção e desmandos, emperravam a administração e desenvolvimento do país. No Ceará foi lançada a candidatura do salvacionista Franco Rabelo, que derrotou Accioly.
Mesmo com a queda do Comendador Accioly e a ascensão do salvacionista Franco Rabelo, os Martins mantiveram o poder local numa manobra bem orquestrada, apoiando as forças dissidentes, ao lado de Paula Rodrigues, - a quem conheciam muito bem e mantinham relações amistosas - que deram suporte a candidatura de Franco Rabelo à presidência do Estado em 1912. Em troca do apoio a Franco Rabelo, mantiveram, momentaneamente, o poder em Ipu, o que lhes valeram o apelido de “Vira-cassaca” dos seus opositores locais, os Aragão, sedentos pelo poder. Só mais tarde estes teriam o prazer de sentir o gosto de governar.
Vencedor nas urnas e assumindo a presidência do Estado em 1912, Franco Rabelo governaria, no entanto, só até 1914, derrubado por uma conjunção de forças estaduais e federais, com destaque para a Sedição de Juazeiro.
Este cenário político estadual e federal provocou consequências nefastas para a política ipuense do período. Com a queda de Rabelo, caíram em Ipu os Martins. Estes não só perderam o poder, como também foram perseguidos, como “cães sarnentos”, duramente pelo governo do Estado.
Decretada a intervenção para o Ceará em março de 1914, assumiu o governo o general Setembrino de Carvalho, que mandou de volta para Juazeiro os “revolucionários” do Padre Cícero. Não obstante, muitos dos “jagunços” foram incorporados ao Batalhão de Segurança Pública que logo começaram a “cometer desordens, perturbando a tranquilidade das famílias”, sendo vítimas de atrocidades os adversários do novo governo e aqueles mais próximos ao rabelismo.

Muitos desses “jagunços” incorporados ao poder repressor foram enviados ao interior para perseguir os rabelistas. Ipu é um destes casos. Osório Martins sentiu na pele o gosto amargo de seu próprio sangue, ao sofrer afrontas de tais jagunços, pelo simples fato de ser um Martins.

Logo após a queda de Rabelo, estacionaram na cidade de Ipu, “policiais”, “jagunços do Padre Cícero” que passaram a hostilizar e perseguir os rabelistas, notadamente os Martins. Foi deposto da intendência do Município de Ipu, em 3 de abril, o Tenente Coronel Aprígio Quixadá e dissolvida a Câmara, empossada por Accioly em 1912 e que havia permanecido no poder mesmo após sua queda.
Foram exonerados do cargo de promotoria de justiça, Dr. Leonardo Mota, e da delegacia, seu primo, Manoel Vitor, ambos ligados aos Martins. Em seguida, os antigos rabelistas – agora democratas – passaram a ser perseguidos, hostilizados. O Ipu viveu um verdadeiro banho de sangue.

O Cel. Benjamin Liberato Barroso, que assumiu a presidência do Estado em junho de 1914, mandou uma força policial para a cidade de Ipu com ordens de perseguir e aniquilar os rabelistas, notadamente os Martins. A ordem era para matar e não poupar munição.

João Martins da Jaçanã só complicou as coisas. Mal sabia ele que o poder dos Martins, de seu grupo, era coisa morta e ainda afrontou a ira do poder instituído em um momento de ânimos cerrados. Perderia tudo, teria sua fazenda totalmente destruída, seus parentes afrontados e veria o sangue de pessoas próximas sendo derramado. Após o ataque a cadeia, João Martins passou a ser o alvo principal das perseguições. A ordem do governo era para exterminá-lo, matar seus “capangas”, acabar com sua fazenda, perseguir, afrontar, prender e, mesmo, matar seus familiares.
Após o episódio do ataque à cadeia, portanto, se seguiu uma intensa perseguição ao Coronel João Martins, empreendida pelo presidente do Estado. Seguiu-se, também, uma série de perseguições, espancamentos e assassinatos no município. Os Martins de Ipu esvaziaram a cidade. Piauí, Ipueiras, Crateús, Nova Russas foram seus refúgios principais. Só retornaram quando os ânimos estiveram calmos.

A cidade de Ipu, no dia primeiro de janeiro de 1915, amanhecera radiante. O sol castigava a muralha da Ibiapaba e produzia um verdadeiro espetáculo de cores e luzes. A cidade acordava e abria suas portas. No mercado se ouvia o vociferar de transeuntes, pedintes, comerciantes, mulheres da vida e daqueles que lá foram comprar sua ração diária. Em cada esquina só se falava de política, da valentia de João Martins e da mudança de poder: alguns diziam: “o coronel que se cuide. Disseram que Benjamin deu ordens para acabar com o valentão. Ouvi dizer que vai chegar uma força policial na cidade, com soldado até do exército. Agora quero ver o que vai ser!”: outros replicavam: “ah, quero é ver! O coronel vai surrar a todos que não é homi de fugir do combate”.


Enquanto o ano novo era comemorado com entusiasmo por alguns e a população exercia sua arte de “cortar e picar”, um grupo de pessoas tinha motivo de sobra para se preocupar, é que sabia, seria alvo de perseguição. Os rabelistas de Ipu, os até então temidos Martins, foram surrados do poder e nada podiam fazer. Com a queda de Franco Rabelo, estiveram de mãos atadas. Todos os cargos de mando, em Ipu, agora estavam sob domínio de seus tradicionais opositores: os Aragão. Estes, que nunca comandaram a Terra de Iracema, estavam sentido o delicioso gosto de governar. Mas mal sabiam eles que este doce sabor logo se transformaria em fel.


As notícias não eram boas para os Martins. Estes sabiam por fontes seguras que o presidente do Estado designara um destacamento do batalhão de polícia para estacionar em Ipu, e teria escolhido o pior de seus tenentes para executar seus planos sujos: aniquilar os Martins de Ipu.


No ano novo muitos veriam o sol nascer quadrado. 1915 entrou para os anais da história dessa formosa cidade, como o ano em que a Terra de Iracema sentiu o gosto do sangue derramado dos poderosos de Ipu, acostumados a “beber o líquido vermelho” de seus opositores, ou mandá-los para os porões de suas cadeias nada limpos.
A cidade mal tinha comemorado a chegada do ano novo, com os espocar dos fogos de artifícios, eis que ainda na noite do dia primeiro, chegava a Estação Ferroviária de Ipu o “asqueroso selvagem”, Tenente Espinheiro, conhecido por suas técnicas de tortura e seu prazer em rasgar seus inimigos com o fio de sua baioneta e fazê-los sofrer antes de morrer: tinha prazer ao ver o sangue e o sofrimento do inimigo. Dizem alguns que era admirador dos Assírios, povos da Mesopotâmia conhecidos por suas técnicas cruéis de tortura ao inimigo. Vinha acompanhado de 100 praças e recebera ordens terminantes de Benjamim Liberato Barroso, presidente do Estado, de não poupar munição, não economizar no sangue derramado do inimigo e não se acanhar na tortura daqueles que não colaborarem com a polícia.


No mesmo dia primeiro, no meio da noite, seguiram para a fazenda Jaçanã para cumprir o que lhes fora determinado. Deveriam chegar de surpresa e antes que alguém avisasse ao coronel. O objetivo era massacrá-lo com toda sua família. Ao chegar próximo à fazenda e cercá-la, pela manhã, a soldadesca rompeu em cerrada fuzilaria contra a casa principal da fazenda. Na ocasião, achavam-se em casa somente João Martins e Antonio Rodrigues (Chapéu Grande), seu fiel capanga, e dois menores seus netos (na verdade afilhados), que momentos antes saíram para um cercado, junto à casa, para dar água a animais. Um deles foi morto barbaramente, trucidado pelas balas, e o outro foi salvo por um outro praça que o escondeu de seus companheiros para que não fosse morto.


O furor da artilharia foi tal que o telhado da casa ficou em cacos. Como ali não encontrou vivalma, o tenente ordenou à destruição da fazenda: impossibilitado de saciar seu desejo de espichar o coro do coronel João Martins com as próprias mãos e tomado por uma cólera insuportável, saqueou a fazenda e o que não pode levar queimou. Alguns soldados esvaziaram latas apinhadas de querosene sobre a casa e os depósitos de farinha, milho, feijão, algodão e tudo o mais. A fazenda foi quase totalmente destruída.
Entre os documentos saqueados, um soldado encontrou a patente de coronel concedida a João Martins pela Guarda Nacional, título que impunha respeito e medo. De pirraça e para humilhá-lo, com ordens de Espinheiro, os soldados enfiaram-na em uma estaca na frente do que restou da abastada Fazenda Jaçanã, como quem diz: “eis a patente de um coronel sem fazenda”.

João Martins e Chapéu Grande, antes disso, ganharam o mato. Espinheiro e seus soldados procuraram-nos como animais, sem resultado, pelas fazendas das redondezas.
Ainda em janeiro os soldados empreenderam outra investida à Fazenda Jaçanã, destruindo o que teria restado do primeiro incêndio, sendo ali, espancadas, diversas pessoas, inclusive dois sobrinhos do Coronel João Martins. Ao cercar a casa do Cel. Felix Martins (irmão de João Martins), foram presos seus filhos, genros e agregados (8 pessoas), além dos espancamentos feitos no local.
Espinheiro e seus soldados correram sertão à caça de João Martins e, por onde passavam, deixavam um rastro de espancamentos e sangue.
Naqueles sombrios dias todos aqueles que fossem parentes dos Martins e mesmo seus amigos mais próximos, passaram a ser perseguidos, alguns foram presos e outros vítimas de violências.

Em fevereiro de 1915, Espinheiro mandou 12 soldados ao termo de Ipueiras, para buscar presos José Cesário Martins, com sobrinhos e genros de João Martins. Como estes declaram não saber do paradeiro do destemido procurado, foram espancados barbaramente, deixados como mortos no pátio da Fazenda Jaçanã.
No dia 8 de fevereiro o alfaiate Antônio Mororó foi espancado, por ser sobrinho de João Martins. O Major Joaquim Porfírio de Farias, ancião respeitado, passou 8 dias presos na cadeia da cidade, pelo fato de ter “cometido um crime”: ser parente e amigo de João Martins, e ai daquele que tivesse a audácia de impetrar um habeas Corpus em seu favor! O capitão José de Farias, membro do diretório do Partido Democrata, agora reduto dos rabelistas e dos Martins, fugiu da cidade para salvar sua pele e, por mais de um mês, viveu escondido no mato. Cel. José Lourenço, não esperou os golpes do pinhal de Espinheiro, abandonou seus negócios e amigos e com a família se escondeu nos sertões de Crateús. Augusto Passos, advogado e Promotor Público, destituído do cargo e ligado aos Martins, passou um dia no mato, enquanto os soldados vasculhavam sua residência. Depois se mandou para o Piauí, onde ficou cerca de dois meses, para não conhecer a fúria de Espinheiro. Ainda, Osório Martins, que em 1914 conhecera o fio da navalha dos “afilhados do Padre Cícero”, rumou para uma “temporada de caça” no Piauí, onde passou algum tempo. Como a estiagem se prolongava, conseguiu matar alguns calangos, antes de retornar!


Em Ipueiras a casa do Cel. Vicente Possidônio, serviu de abrigo ao acolher muitos rabelistas de Ipu.
Os Martins, grupo político que até então (1914) controlara o poder local não só foram brutalmente banidos de seus cargos, pelo menos num curto período de tempo, como também, duramente perseguidos. Muitos só conseguiram se livrar das prisões, espancamentos, humilhações e mesmo assassinatos, fugindo de seu torrão natal.
É importante notar que o grupo político que assumiu o poder no município, embora em alguns momentos mantivesse uma acirrada oposição aos Martins, não pactuava com a violência dessas perseguições. Pelo contrário, Procuram inicialmente barrá-las e, em alguns casos, buscaram a conciliação entre as partes. Porém, estiveram de mãos atadas. Nem o intendente (prefeito), nem o Juiz de Direito da Comarca e, nenhuma autoridade municipal tinha poderes para deter as violências praticadas na Terra de Iracema, com o aval do Presidente do Estado.
Os Aragão, que assumiram o poder no município com todos os seus “agregados”, compadres e afins, tentaram em vão deter aquela onda de perseguições na até então “pacata” Ipu. O próprio intendente municipal à época do Governo de Benjamin Barroso, o Cel. João Raimundo de Aragão Filho, tentou, sem sucesso, impedir as perseguições ao Cel. João Martins da Jaçanã, com quem possuía boas relações.
Os Aragão estiveram de mãos atadas, portanto. Esperaram tanto tempo para sentir o doce gosto do poder, e, quando, enfim, conseguiram, o seu sabor transformou-se em fel. Tinham o poder de direito, isto é, juridicamente, mas não de fato. Tinham os cargos, mas não apitavam nada.
O ano de 1915 pode ser tido como aquele em que o sangue dos Martins foi derramado sobre a fina areia do sertão, acostumada ao rústico e amargo sangue de seus inimigos. E a muralha, ao longe, foi testemunha deste episódio. Os coronéis de Ipu sentiram na própria pele o remédio que receitavam aos seus inimigos. Que a história não esqueça deles.